Eu a vi pela primeira vez em um lobby de hotel. Soube naquele instante que eu iria amar esta mulher. Em geral, eu tenho um bom senso quando se trata de mulheres. Eu sei qual tipo de mulher me fará sentir mais equilibrado e qual tipo representará um grande risco para mim. Aquela mulher ali sentada na cadeira do lobby de hotel significa perigo. O problema: Eu amo o perigo e o risco! Ela me olha, seus olhos me perfuram com desejo e me chamam. Vou!? A vida é sempre maravilhosa quando você perde o controle das coisas e se deixa levar pelo fluxo. O encontro com esta mulher é a vida pulsando, porque isso significa perder o controle totalmente. "O encontro com esta mulher é a vida pulsando, porque isso significa perder o controle totalmente" Eu perdi o controle 30 minutos depois, quando suas unhas arranharam as minhas costas. Uma dor bonita. Seus cabelos negros deslizam através dos meus dedos, e eu tento agarrá-la pelo pescoço, tentando domá-la, mas sem sucesso. Ela é como uma grande felina, um animal selvagem fora de controle. Eu, que estava acostumado a dominar, fui dominado. Ela gosta disto. Seus gritos ecoam pela sala que nada mais é do que um chão duro e nu. E mais uma vez, a dor é bela. A sensualidade de Nara Lobo é indescritível e encontra expressão no calor de seu corpo. Seus lábios envolvem os meus e seus dentes me dão leves mordidas de prazer. Eu mal posso me conter, não consigo segurar os sons do meu gozo. Meu coração bate rápido. Eu sabia naquele momento que era melhor não vê-la novamente porque ela iria destruir a ordem na minha vida. No dia seguinte porém, lá estava eu com ela. Um relacionamento com esta mulher é inconvencional. Mas quem quer buscar o convencional? Pessoas entediantes e que não têm energia para explorar a vida fora das normas sociocomportamentais. Nara Lobo é uma mulher que tenta não se resignar às normas, as regras e aos comportamentos, ela busca quebrá-los e subvertê-los. Isso nem sempre é fácil ou possível, mas definitivamente é uma experiência. Eu não sei o que a vida com esta mulher irá me trazer. Talvez ela seja apenas um sonho, um sonho lindo, e que ao acordar me faça querer saber: quem é Nara Lobo?
Nara Lobo
Bárbara Paz
Não é a primeira vez que me chamam pra escrever sobre a Bárbara. Conheço segredos dela (e ela meus) que nunca serão revelados. Segredos que me levam a pensar sempre na mesma coisa: poucos conhecem a verdadeira Bárbara Paz. Poucos têm a oportunidade de conviver com o humor inteligente e bufão, com a risada escrachada que contamina, e de ouvir besteiras da rotina com o vozeirão grave, com seu jeito ansioso, delicioso. Sua primeira aparição pra mim já foi nua, no clipe Pelados em Santos, dos Titãs, de 1999. Como jurado de um prêmio da MTV, recebi a fita com esse clipe, uma provocação mundana genial ao mundo da publicidade bolada pelo maior de todos, Washington Olivetto. Bárbara oferecia as tetas para o consumidor voraz mamar. Depois, no circo e no teatro, conheci a Bárbara palhaça e cômica. Rondava os palcos alternativos de São Paulo. No Next, ali na rua dos travestis do centro, a Rego Freitas, fazia Um chope, dois pastel e uma porção de bobagem, comédia hilária de Mário Viana com os Parlapatões, grupo com o qual ela se associou de corpo, coração e alma. Na época, namorava meu grande irmão Raul Barreto. Fez com o saudoso Marcos Cesana a peça Felizes para sempre, um dos melhores textos do meu grande amigo e parceiro Mário Bortolotto, no porão do Centro Cultural São Paulo. Trabalhamos juntos na peça Suburbia, de Eric Bogosian, dirigida pelo Chiquinho Medeiros. Eu colaborava na tradução e vivia com ela o dia a dia dos ensaios, dos bastidores, da montagem. Gente boa de trabalhar. Bem-humorada, sóbria. Foi uma temporada longa. Viajamos. Mudamos de teatro. Até que ela veio nos dar a notícia que teria que sair: “Liguem a TV hoje à noite no SBT que vocês entenderão”. Me esqueci de ligar, mas nem precisou: os atores começaram a telefonar, olhem a Bárbara no Silvio Santos, na Casa dos artistas, o que é isso? Acompanhamos de olhos arregalados o surpreendente, e até então inédito por estas bandas, reality-show. E ela ganhou! Precisava. Nunca escondeu de ninguém que fez o programa pela grana, pra ajudar as irmãs que a criaram no Rio Grande do Sul, já que ficou órfã cedo. O tal carro da Fiat que cada participante ganhou? Ela doou para uma irmã. Todos nós sabíamos: ali transborda talento. Seu timing de humor e drama estão em perfeita sintonia; tem ousadia de encarar papéis difíceis e de se entregar no palco ou diante das câmeras. Bárbara é “gente de teatro”, que é como classificamos atrizes e grandes atrizes. Torcemos pro rótulo “ganhadora da Casa dos artistas” passar logo pra ela voltar ao teatro. Então, vi Bárbara deslumbrante com o Grupo Tapa em Contos de sedução, de Guy de Maupassant, e em A importância de ser fiel, a dúbia comédia de Oscar Wilde. Depois, surpreendentemente mais rodriguiana do que muitas rodriguianas, em Os sete gatinhos, cruel e sensual, como pede Nelson Rodrigues. Vi ela fazer a ninfeta fútil e devassa Lolita Pille, na adaptação do livro Hell, dirigida pelo marido, Hector Babenco, e também a musa inspiradora de um autor em Vênus em vison, também dirigida por Babenco, em que vive uma atriz que seduz, atormenta e acaba revelando um lado escuro reprimido. Em dado momento, ela pega os dois suspensórios do personagem com que contracena e os puxa, como um elástico, num típico movimento de picadeiro. Rio sozinho e falo para dentro: “Palhaça...” Bárbara para mim carrega a própria dualidade de um palhaço. Muitos sabem do seu passado triste, de onde vem, que seus pais morreram cedo, quem a criou, que veio de uma cidade pequena do Sul, que tem uma cicatriz que carrega desde a adolescência. Mas seu riso e talento contaminam quando as luzes se apagam. Agora, as cortinas se abrem. A Bárbara que nos prende a atenção e que se apresenta é a mulher que sempre surpreende. Movida por seus dramas e temores – armas de um artista completo –, cresce não a vítima, não a celebridade, não a loira bombshell, mas a grande atriz que ela é. Seu timing de humor e drama estão em perfeita sintonia. Bárbara é ‘gente de teatro’, que é como classificamos atrizes e grandes atrizes Coordenação Geral Adriana Verani Styling Lara Gerin Make&Hair Helder Rodrigues (Capa MGT) Produção editorial Paula Gugliano Assistentes de foto Aecio Amaral, Pedro Bonacina, Renata Terepins Assistente de make Michelle Pavão Camareira Renata Pina Agradecimentos Locação Padovani Consult / kitty@padovaniconsult.com.br Agradecimentos Moda Brechó Minha Vó Tinha, Casa Juisi, Fruit de La Passion, Marita de Dirceu Tratamento de Imagens RG ImagemÓrfã ainda criança, vencedora de a Casa dos Artistas, meme de internet. Bárbara Paz nunca esconde o passado ou as cicatrizes. Talvez por isso seja hoje uma das maiores atrizes do nosso teatro. Aqui ela se joga de corpo e alma à la Madonna nos anos 80
Trip Girls viajantes
Yamila Pilo
Fincado no chão, o ponto se faz linha de aspiração vertical e sobe. Subitamente ela quebra qual anca na direção oposta. A curva segue sinuosa. Cria-se contorno: esvaziado de um lado, preenchido de outro. O corpo desenhado se forma e ainda nem saímos dos sapatos de Yamila Pilo. No alto de seus saltos agulha, invertido, plataforma, cone, stiletto ou qualquer outro nome que possa soar tão grego quanto sandália gladiadora, a portenha se vê hoje não só como modelo, mas também como designer de calçados. “Gosto dos altíssimos, esses que desafiam as alturas”, diz ela entre risos. A aventura empreendedora começou há pouco mais de dois anos, explica a argentina. O sonho infantil de ser modelo se concretizou logo na juventude. Defronte as câmeras, a moça quis se embrenhar pelos bastidores. Está prestes a se formar em Desenho da Indumentária na Universidade de Buenos Aires. “[No curso] se abriu um mundo para vestir pés”, conta. Fundadora da Pilo Shoes, Yamila diz que precisa fazer mágica para se dividir como designer, estudante e modelo. Some também o tempo para ficar em casa cuidando da cachorrinha e das duas tartarugas ou ao lado do namorado, com quem mora. “No tempo livre gosto de sair para jantar, ir ao cinema, ir à praia”, diz ela. Largada em seu apartamento, a jovem se desnuda enquanto chama a vista a suas salientes maçãs do rosto em meio a seus traços harmônicos, seu nariz pontudo e seus olhos sorridentes. Descalça, Yamila tem a cabeça longe e os pés no chão.
Retrospectiva Trip Girls 2013
Para manter a tradição, fizemos um seleção para você relembrar todas as Trip Girls que passaram pelas págnas do site e pela revista em 2013. Quer ver mais? Passe na nossa home page das Trip Girls e não perca nenhum detalhe dos ensaios de 2013. E que venham as Trip Girls de 2014!
Mandy Beckwith
Os olhos dela são azuis. Mas aquele tom de azul cintilante, quase impossível de acreditar que existe na vida real. Os cabelos são tão dourados que chegam a brilhar durante a sessão de fotos, contrastanto com a pele bronzeada. Mas engana-se quem acha que Mandy Beckwith, 19 anos, se valha de algum artifício para ficar com esta aparência, dignas de fotos de capas de caderno com fotos estonteantes de surf. A mão é sueca de olhos tão azuis quantos os dela, o pai é americano, responsável por criar a família ali em Long Island, Nova York, onde a filha trabalha como vendedora e aproveita as horas vagas para arriscar na carreira de modelo e aproveitar o sol - e o bronzeado - da praia dos nova-iorquinos. Apesar de ser extrovertida diante das câmeras (e dos clientes da loja onde trabalha), Mandy se define como uma pessoa discreta, prefere beber uma cerveja na praia com os amigos, do que se jogar na frenética noite da cidade onde mora. E foi numa dessas reuniões com os amigos que ela encontrou a amiga fotógrafa Luiza Moraes, que não perdeu tempo, sacou a câmera da mochila e fez os registros no habitat natural de Mandy: a praia.
Isabelle Cutrim
Ela era o patinho feio da turma, já morou em tudo que é canto, vive de olho no peso... Isabelle Cutrim, nascida há 22 anos numa fazenda no Maranhão, parece ser que nem todas as outras modelos. Mas, como as fotos a seguir provam, ela é muito, muito mais que isso À primeira vista, Isabelle Cutrim parece ser como todas as outras modelos: era o patinho feio da turma da escola (antes de o tempo fazer seu trabalho e tratar de acertar suas medidas), já morou em meio mundo (mas gosta mesmo é da terra natal), vive brigando com a balança (apesar de dizer que come de tudo), etc., etc. Isabelle até parece ser como as outras modelos. Mas não é. Maranhense de 22 anos, sua pele e seus olhos não se decidem pelo tom. Ora timidamente lolita, inspira cuidados. Ora fatalmente fulminante, inspira mais cuidado ainda. Adolescente, já figurava em campanhas e em catálogos de marcas e grifes ao redor do mundo. O trabalho fez a caixa postal da moça – que cresceu numa fazenda no interior do Maranhão – mudar muitas vezes: México, França, Espanha... Desde 2012, fixou pouso na Itália. “É o país da Europa onde as pessoas são mais receptivas”, diz. Em Milão, conheceu o atual namorado, o jogador profissional de basquete Alessandro Gentile. “Foi como estar no sofá da minha casa”, confidencia, a respeito deste ensaio Isabelle se mostra experiente, apesar da pouca idade. “Foi como estar no sofá da minha casa”, confidencia, a respeito deste ensaio. Entre tantas outras fotos e desfiles, ela ainda consegue arranjar tempo para si. Recentemente encontrou o boxe tailandês como maneira de se manter saudável e com o corpo em forma. “Prefiro praticar esportes e comer o que eu gosto a ter de fazer dietas”, diz. Comida, para a moça, pode ser um remédio contra a distância da terra natal. Pelo menos uma vez por semana vai a algum restaurante brasileiro. Se as energias estão repostas e o calendário permite, Isabelle viaja. “Sempre que posso dou uma escapada de Milão”, afirma, sem esconder o entusiasmo em conhecer novos lugares, pessoas e culturas. Esteja onde estiver, a garota traz recordações da infância nos braços da família e com os pés no chão. “O contato com a natureza é uma das coisas que mais gosto”, lembra. Por isso, quando mais velha, pensa num lugar para chamar de seu. “Quero ter meu refúgio: uma casa bem grande com um superjardim para meus filhos e meus netinhos”, sonha. Para quem poderia ganhar o mundo apenas com o que Deus lhe deu, a moça é modesta. Tá vendo? Isabelle não é uma modelo comum.
Styling: Stephanie Kherlakian Agradecimentos: Lingerie Yasmine Eslami_ www.yasmine-eslami.com
Luciana Pádua
Luciana Pádua nasceu há 26 anos em Suzano, interior paulista. Mas por lá não ficou muito. Já morou na Bahia, na periferia de Buenos Aires e, agora, pode ser encontrada em Paraty, onde vive fazendo massagem na praia. “Um lugar a cada dois anos”, é o seu mantra Ficar ou ir embora? A decisão só depende do que Luciana Pádua estiver a fim de fazer no dia em que essa dúvida surgir. “Não é o lugar que vai te fazer feliz. Ajuda, mas a felicidade está dentro de ti”, resume. Criar raízes não combina mesmo com esta paulista de 26 anos, que já carregou sua felicidade por muitos lugares. Resolveu “sair do seu mundinho” aos 19, largou a casa dos pais em Suzano e desde então não sossegou mais. Participou de um projeto ecológico que não deu certo em Campos do Jordão, curtiu a vida na Bahia, morou na periferia de Buenos Aires. “Um lugar a cada dois anos” é o que tem de mais parecido com um plano. A mãe chama ela de passarinho. E, segundo a dona Sueli, passarinho a gente tem que soltar. A proposta só não teve sucesso em São Paulo, onde a estada durou apenas três meses. “É que não consigo ficar longe da terra, do verde, da qualidade de vida...”, diz a bela. Os dois dias que passou na capital para escolher as fotos deste ensaio já foram um suplício. Não é fácil enfrentar o cinza barulhento de uma metrópole para quem morou em sítio quando pequena, tomando leite de vaca recém-tirado e andando de pés descalços. Puxou essa sanha de mato do avô, que fugia da cidade sempre que podia. “Não me vejo longe da natureza.” Foi talvez por isso que ela e o namorado argentino adotaram a histórica Paraty, no litoral fluminense, como atual residência. Ela queria voltar para o Brasil e os dois saíram da capital argentina mochilando por aí. Gostaram do casario colonial cercado de mata atlântica, reservas ecológicas, praias, ilhas e do cotidiano vagaroso, agitado apenas de vez em quando por festivais e turistas vindos de todos os cantos. É esse movimento que garante o sustento dos dois massoterapeutas, que passam seus dias relaxando pessoas na areia, à beira-mar. Trabalham. Mas nem tanto. “O ser humano não foi feito para trabalhar 8 horas por dia, então eu trabalho menos pra poder praticar esportes, andar até as cachoeiras, aproveitar... Eu nunca trabalharia em um escritório!”, garante. Claro, passarinho não foi feito para viver em gaiola. “Gosto de provar tudo. Não há só uma verdade na vida, há várias. E pode haver uma para cada momento” A escolha da primeira profissão já denunciava a inaptidão para o comodismo: formou-se técnica em turismo, trabalhou com recreação em museu e hotel. Respeitando as próprias regras, resolveu mudar de área e estudar biologia, que cursou por – imagine a coincidência – dois anos. Luciana se considera uma bióloga de alma. “Gosto de provar tudo. Não há só uma verdade na vida, há várias. E pode haver uma para cada momento”, acredita. Ela solta suas frases com rapidez e segurança, parece orgulhosa de sua inconstância. Há um bocado de energia concentrada em seu corpo de apenas 1,63 metro. Se não está na areia trabalhando, está nas ondas de Ubatuba com sua prancha. Ou praticando tai chi chuan. Ou fazendo trilhas pela mata. Ou circulando de bicicleta por aí. Essas são as escolhas do momento, mas a miríade de atividades que experimentou passa ainda por variedades como handebol, ioga, vôlei e kung fu – estilo yi chuan. Por isso este ensaio não poderia ter sido feito em melhor lugar. Paraty, entre a serra e o mar, no meio do mato, dentro da água, Luciana enterrando os pés na areia, se sentindo em casa. “Foi lindo! Deu aquela meia hora de vergonha, mas eu tô alucinada... Foi muito puro, uma brincadeira, tudo muito natural”, empolga-se. E o Brasil, é mesmo o seu lugar? “Neste momento, sim.”
Trip #230 traz o especial 'Brasil: vai ficar ou tá a fim de ir embora?'
Nossas duas capas de março. Nas bancas a partir de hoje, quarta-feira, dia 12 de março A edição de março da Trip traz o especial Brasil: vai ficar ou tá a fim de ir embora? Criolo, Maya Gabeira, Ronaldo Fraga, Carlos Burle, Gilda Midani, Iggor Cavalera, Carlos Nader, Francisco Bosco, Dudu Bertholini, Carlos Saldanha e mais de 100 pessoas refletem sobre cair fora, ficar por aqui, viver em trânsito e sobre um dos momentos mais estranhos da história recente do país. Páginas Negras: Karim Aïnouz Nas Páginas Negras, entrevista com o Karim Aïnouz. Por que um dos maiores nomes do cinema nacional foi viver em Berlim? Luciana Pádua relaxa (linda e nua) em Paraty E nossa Trip Girl vem direto do interior de São Paulo. Luciana Pádua nasceu há 26 anos em Suzano, mas por lá não ficou muito. Já morou na periferia de Buenos Aires e, agora, pode ser encontrada em Paraty, onde vive fazendo massagem na praia. A Trip está nas bancas a partir desta quarta-feira, 12 de março. * Para os assinantes as revistas já estão sendo entregues. Se você não receber, por favor, entre em contato com a Central do Assinante (segunda a sexta das 9h às 18h): São Paulo: (11) 3512-9465 // Rio de Janeiro: (21) 4063-8433 // BH: (31) 4063-8482.
Camila Sansone
“Já vou avisando que eu tenho uma personalidade muito porreta, completamente mil grau”. Foi assim que a modelo Camila Sansone, 21 anos, começou a entrevista, sem sequer esperar o repórter fazer a primeira pergunta. Nascida em Osasco, mas criada no bairro da Vila Mariana, em São Paulo, a paulistana se orgulha da personalidade forte. “Sempre fui assim e não faço questão nenhuma de esconder. Até quando decidi sair de casa, tive que brigar com meus pais. Eles falavam que não ia dar certo sabe?”. Sua teimosia a levou longe. Decidiu que aos 15 anos iria seguir a carreira de modelo, viajou o mundo e hoje, além de morar sozinha, ainda ajuda os pais. O namorado ela dispensou faz quase um ano. “Ele brigava comigo, não deixava eu sequer pensar em ensaio sensual. Queria me controlar o tempo todo”. Mas sua personalidade forte, da qual ela tanto se orgulha, assusta muita gente, principalmente os homens. Por isso ela prefere ficar solteira, se dedicando apenas à carreira de modelo e à faculdade de Publicidade e Propaganda. “Tenho um rolinho aqui e outro ali, mas nada sério. Agora eu quero terminar a faculdade. Não vou ser modelo para sempre, né?”. A entrevista segue. Camila gesticula sem parar, fala de forma frenética, até que seu telefone toca e ela muda completamente seu tom de voz. A fala fica mansa. Seu cachorro “Chorão” – homenagem à banda Charlie Brown Jr. - havia acabado de sair do veterinário. “Acho que ele é um dos poucos que conseguem me deixar calma, sabia?”. A outra pessoa capaz de tamanha proeza foi o fotógrafo deste ensaio. “Achei que fosse ficar nervosa, mas ele soube me deixar muito à vontade. Sempre quis fazer um ensaio sensual. Gostei muito.”
Revista Trip no New York Times
É com muito orgulho que dividimos com vocês que a Revista Trip foi citada no New York Times, o mais importante jornal do mundo. Em um artigo sobre como as modelos transgêneros estão sendo tratadas de forma mais digna pela indústria da moda e pela sociedade do Brasil, o ensaio com a jornalista e modelo mineira Carol Marra, a primeira Trip Girl transex da nossa história, foi citada como argumento para mais força ao artigo. Vale lembrar que a Trip aborda as questões ligadas à compreensão mais ampla do que é gênero e do que é ser humano desde os anos 80. O artigo do NY Times você pode ler aqui. Já o ensaio com Carol Marra você pode ver aqui no site. :D
Kamila Simões
Kamila Simões é filha de KL Jay, DJ do maior grupo de rap do país, os racionais MC`s. Mas isso não importa. Aos 20 anos, mãe e cheia de planos, ela tem luz própria de sobra Era uma segunda-feira quente quando ela entrou na redação dentro de uma calça jeans estonada, dessas que voltaram à moda, e uma camiseta estampada. Nos pés, tênis de basquete enormes – um Air Jordan, marca criada pelo Pelé do esporte. O sorrisão iluminava a casa onde trabalhamos. Ao lado dela estava seu pai, Kleber Geraldo Lelis Simões, o KL Jay, DJ dos Racionais MC’s, o maior grupo de rap do Brasil. Pai e filha vieram até a Trip saber de nossas intenções com este ensaio. Nos preocupamos em vão. KL Jay veio em missão de paz, superorgulhoso da cria e falando que “não manda em nada”. “Ela tem 20 anos, é dona do seu nariz. A gente instrui os filhos [ele tem sete, com três mães diferentes] até certo ponto. O mais importante mesmo é espalhar o amor”, disse. Bela mixagem, DJ. "Sou meio egocêntrica, vai. Gosto de aparecer, acho que sou bem fotogênica" Uma semana depois da primeira visita, logo após ter posado para as fotos que você está vendo, reencontro Kamila para a nossa entrevista. “Quer dizer que aquela cara de poucos amigos dos Racionais é só pose para foto?”, pergunto. “Acho que sim [risos]. Mas na verdade eu convivi muito pouco com eles. Era pequena quando estouraram. São todos tranquilos”, acredita. “Menos o Brown. Ele é brabo mesmo.” ANITTA E CHRIS BROWN Ela conta que, ironia do destino, sempre zoava o pai dizendo que “ia sair pelada na Trip”. Saiu. E por que tirar a roupa assim pela primeira vez, Kamila? “Sou meio egocêntrica, vai. Gosto de aparecer, acho que sou bem fotogênica. Quis usar esse meu lado”, confessa, sem medo de ser feliz. Se o pai “foi de boa”, o namorado enciumou, para logo relaxar também. Já a mãe e a avó ficaram empolgadíssimas. “Para as amigas eu não contei nem mostrei nada. Vão ficar chocadas”, diverte-se. Kamila veio parar nestas páginas graças a Autumn Sonichssen, nossa fotógrafa com ímã para beldades desconhecidas. Ela mandou uma mensagem por Facebook para Kamila, que primeiro achou que era uma brincadeira. Quando viu que a coisa era séria, aceitou o convite. Atualmente, ela se dedica integralmente à trabalhosa tarefa de ser mãe. Analice veio ao mundo 11 meses atrás sem muito aviso nem planejamento. Mas Kamila e Renan, namorados há “uns três anos, não sei”, abraçaram a ideia. Quando a pequena começar a dar menos trabalho, a mãe planeja fazer uma faculdade de design gráfico ou engenharia – e, antes de mais nada, recuperar todo o sono perdido. Tocar música nunca fez muito sua cabeça: “Meu pai é DJ, tenho dois irmãos DJs [Will e Kalfani] e a mais nova também quer ser DJ agora. Tá bom já, uma família não precisa de tanta música assim”. Mas escutar, sim. Sempre. Principalmente hip-hop gringo e comercial, como Chris Brown. “Racionais escuto muito pouco. De nacional, tenho ouvido mais Anitta”, ri, apesar de estar falando sério. "Às vezes estou com meus irmãos em um restaurante e alguém olha feio para a gente. Em qualquer lugar que você for vai ter gente preconceituosa" Da infância no Tucuruvi, bairro paulistano onde nasceu, cresceu e mora até hoje, ela lembra com carinho. Lamenta só um episódio pelo qual passou no primeiro ano do segundo grau, “em uma escola de boy”: “Tinha um menino superpreconceituoso, que adorava zoar a mim e aos outros dois únicos meninos negros que havia na sala. Um dia eu cansei e peitei o cara. Tomei uma suspensão da diretora da escola, que nem quis escutar o que tinha acontecido. Meu pai teve que ir lá, deu a maior confusão”. Foi quando Kamila percebeu que o racismo não tem hora nem endereço para aparecer. “Às vezes estou com meus irmãos em um restaurante e alguém olha feio para a gente. Mas meu pai sempre falou muito sobre esse assunto com a gente. Em qualquer lugar que você for vai ter gente preconceituosa. Cabe a nós se importar com isso ou não. Eu me importo, mas não fico procurando problema.” Já passa das 21 horas, e é hora de dormir para a nova mãe, de licença das outrora queridas baladas. Ela entra no táxi que a vai levar para a zona norte, doida para se jogar nos braços de Orfeu depois de um dia de fotos e entrevista. Este texto também se despede, sem nenhuma analogia entre nossa Trip Girl e alguma letra dos Racionais. Não precisa. Kamila, apenas, é mais do que suficiente.
Produção Executiva Adriana Verani Styling Lara Gerin Make&Hair Omar Bergea Produção de moda Lidia Yang Assistente de foto Josu e Patricia Barreto
Tratamento de imagens Andi Kuonath para RedFishBlack.com Agradecimentos A La Garçonne, Beevee, Billabong, Dopping, Hope, Jack Vartanian, Jun Matsui, Miz.; couture, Moikana, Scala
Cassiana Muller
Quem vê a gaúcha Cassiana Muller Werlang pela primeira pode ter uma impressão errada. A gaúcha nascida na cidadezinha de São Pedro do Sul, ostenta um belo par de olhos azuis, não é tão alta e é bem discreta, quase angelical. Mas o que ninguém sabe é que a gaúcha de 25 anos, solteira, prefere passar a noite acompanhada de muito vinho, cerveja e amigos pelas baladas rock de São Paulo. Em sua playlist, banda como Pain Of Salvation, Dream Theater, Iced Earth, Marilyn Manson e Scorpions. Em sua estante de livros, "a depressão dos livros de Nietzche" e Charles Bucowski. E os filmes prediletos são os sangrentos Kill Bill, Clube da Luta e Assassinos por Natureza. Apesar desse lado mais "violento", na hora das sessões de fotos, a personalidade angelical prevalece. "Fiquei com vergonha nas primeiras fotos, mas depois foi muito legal e eu me soltei", revela Cassiana, que graças à insistência do amigo e fotógrafo Alex Korolkovas, foi convencida a estrear seu primeiro ensaio sensual. "Gosto do estilo e espontaneidade da revista. É mais natural, sem tanta produção, fica mais bonito e valoriza uma beleza mais clean". E como você se definiria em apenas uma frase? "Rock'n'Roll", responde, na lata, sem pensar muito.
Vlada Kleynburg
Ela estava certa. Parece estranho, uma moça que foi do frio da Moldávia para os Estados Unidos, tirando a roupa e mostrando as cicatrizes para a revista mais brasileira de todas, no meio de um deserto de sal em Utah, onde a cidade mais próxima é conhecida só pelos cassinos e pelas almas perdidas. Mas esse triângulo de países também faz sentido. Às vezes a gente recebe garotas na nossa vida que chegam com o vento, o short rasgado e as cicatrizes à mostra. Essas meninas são os melhores presentes. Eu recebi a Vlada Kleynburg de presente da minha amiga Brandalynn, que era chefe dela numa loja que vendia cadeiras e espelhos fabricados na Índia. Brandalynn me mandou um e-mail com umas fotos do celular, pra eu ver a “linda nova copilota”. Conheci a moça uns meses depois, numa noite regada a gins-tônicas em Salt Lake City. Ela se enfiou na pia do bar só de bota para eu fotografar (a pia era bem legal) e colocou uma mão de manequim na cara só porque achou lindo. Ela me disse que gostava muito se ser fotografada. Eu pedi para ela ir para o salar comigo no dia seguinte. E ela foi. Levou uma cadeira da loja onde trabalha para fazer uma instalação lá no meio do deserto. Dirigindo num pôr do sol absurdo de bonito, se arranhando com o sal e parando a cada 5 minutos para fazer xixi no meio do mato. Brincou, fez estrelas no mato, acendeu um beck dentro do carro, ficou rindo alto e sozinha. Mostrei as fotos para ela depois e ela quase não se reconheceu, de tão gostosa que estava. Ela é dessas. A rotina dela: fuma maconha, cuida das plantas, anda na montanha, fica na paz A história resumida da vida de Vlada: nasceu na Moldávia, no sul da antiga URSS, e se mudou para os Estados Unidos com os pais e a irmã mais velha, junto com o colapso da União Soviética, em 1991. Foram aceitos como refugiados e se instalaram primeiro em Nova York, onde morava parte da família. Um primo convenceu o pai dela a se mudar para Utah, porque Nova York não era uma cidade onde as filhas dele deveriam crescer. Mudaram-se para o tédio do subúrbio de Salt Lake City, uma decisão da qual seu pai se arrepende até hoje. Ela não sabia nenhuma palavra em inglês e foi conhecida como a “russinha estranha”, mas ficou fluente no idioma em poucos meses, apesar de continuar a ser chamada de russa estranha por todo o resto da carreira escolar. Nesse subúrbio de classe média, brincando com os amigos mórmons e assistindo a seriados antigos, teve uma adolescência turbulenta. Já foi parar na cadeia por alguns dias e ficou com tanto medo da experiência que nunca mais quis voltar. Formou-se em jornalismo na Universidade de Utah. Após uns bicos, começou a trabalhar na tal loja de móveis indianos. Mas ela tem fogo demais no rabo e começou a ficar inquieta. Como todo mundo que mora no meio dos Estados Unidos e fica inquieto, se mandou para o Oeste. Através de uma amiga em comum conheceu o namorado, que é dono de uma fazenda legal de maconha na Califórnia, numa cidadezinha chamada Grass Valley, que faz jus ao nome. É realmente longe. Ele estava precisando de alguém para trabalhar na fazenda e ela se ofereceu para ajudar por um tempo, se apaixonaram e estão lá até hoje. Moram do lado de um lago na fazenda e trabalham na terra todos os dias com uma equipe pequena. Toda manhã, faz suco verde. Acredita que, já que ingere tanta coisa boa através do suco logo cedo, pode comer o que quiser o resto do dia. Tem um jardim de inverno todo moderno, com plantas de maconha de todos os tamanhos e um jardinzinho de temperos (mas os temperos, ela diz, são “só de brincadeira”). O resto eles levam a sério. Essa é a rotina dela. Fuma maconha, cuida das plantas, anda na montanha, fica na paz. Não sabe o que vem amanhã e nem vê problemas quanto a isso. Menina surreal, menina dos sonhos.Nascida na Moldávia – a república bem abaixo da Ucrânia – e criada no subúrbio de Salt Lake City, em Utah, nos Estados Unidos, Vlada Kleynburg foi trabalhar em uma fazenda legal de maconha na Califórnia, onde cultiva ervas e procura não pensar no amanhã
Raissa Bittencourt
Parque Nacional de Masai Mara, Quênia. Um leão se espreguiça calmamente enquanto toma conta de sua fêmea. A poucos metros dali, alguns rinocerontes caminham tranquilamente bem próximo a duas zebras. De repente, a câmera fecha o close num filhote de elefante, que insiste em incomodar a mãe com sua tromba. Do outro lado da tela está Raissa, que assiste vidrada a mais um episódio de Animal Planet, fascinada por todos os bichos que aparecem na tela. Nascida em Limeira, interior de São Paulo, Raissa Bittencourt, mudou cedinho para a capital paulista e, aos 22 anos, aproveita a privilegiada região da Serra da Cantareira para ficar próximo do que mais ama: a natureza. O amor virou profissão, e hoje ela cursa a faculdade de veterinária e divide o tempo entre os estudos, o estágio nas provas de tambor de cavalos quarto de milha e a carreira de modelo. Mas se você perguntar para ela o que é mais fácil lidar, a resposta é simples, “olha, os bichos costumam ser sinceros sempre, acho mais fácil lidar com eles”. O convite para o ensaio veio por acaso, de um amigo que achou ela “a cara da Trip”, a levou para o meio da natureza e registrou toda a beleza natural desta libriana de 1,70 e 54kg perfeitamente distribuídos. “No começo eu estava meio assustada porque nunca tinha feito nada parecido. Fiquei com um pouco de vergonha nos primeiros cliques, mas depois me acostumei. Esse contato com a natureza é uma coisa que realmente admire e que faz parte de mim, então fluiu bem”. O pai ainda não sabe do ensaio, a mãe sabe apenas que ela fez as fotos, mas Raissa prefere fazer um mistério, para surpreender ambos e também o namorado, que a conquistou já faz um tempinho com um belo de um sorriso. Já para os leitores da Trip, ela manda o recado: “Espero que todos não vejam de uma maneira vulgar. E que achem lindo igual eu achei (risos)”.
Hingrid Pfaffenzeller
Nascida em Curitiba e criada no Rio, a estudante de arquitetura é louca por praia e pelas montanhas da cidade, mesmo tendo medo de altura. “Superar meus limites me excita” Numa manhã de segunda-feira, eu sentado na Pedra do Arpoador olhando as ondas, ela aparece e encosta a bicicleta ao meu lado. Pele morena brilhando, olhar de menina, boca incrivelmente desenhada. Tomei coragem e convidei para a sessão de fotos. “Jura? Nunca passou pela minha cabeça ser fotografada...”, ela disse. Mas aceitou. No sábado, toca o interfone no meu apartamento, na Lagoa, e ela sobe. Pelo olho mágico, vejo Hingrid Pfaffenzeller, nascida em Curitiba e criada no Rio de Janeiro, arrumando os longos cabelos. Abro a porta, ela sorri. O sotaque carioca é forte. Ela se troca, vamos ao quarto e começamos a sessão. Na janela, olhando para baixo – estamos no 18ª andar – ela diz que tem medo de altura, mas que sempre desafia o próprio medo fazendo trilhas para subir no topo da Pedra da Gávea ou do Morro Dois Irmãos. “Superar meus limites me excita”, confessa. Deitada na minha cama desarrumada, ela abre o bocão, se espreguiça e conta que está morrendo de sono: ficou tão ansiosa que não dormiu na véspera. Peço para tirar a parte de cima e ela tem vergonha. Aceita, mas procura esconder os seios com as mãos. Mais adiante, e um pouco mais à vontade, ela deita no sofá da sala, folheia uma revista, mostra uma foto de praia e abre o jogo: “Uma das coisas que mais me deixam com tesão é estar na praia em noite de lua cheia, céu estrelado, aquele silêncio, a areia gelada... ninguém por perto, só eu e meu namorado. O mar faz com que eu me sinta livre e desconectada do mundo”. Ela é mais das coisas simples da vida, de sentar num bar com os amigos, pedir uma cerveja com porção de fritas e jogar conversa fora O corpo nu, seja de homem ou de mulher, também a deixa acesa. E sexo, claro. “É superimportante pra mim. É a maior troca de fluidos que pode haver entre duas pessoas.” Diz que nunca foi baladeira, de sair na noite para pegação. Ela é mais das coisas simples da vida, de sentar num bar com os amigos, pedir uma cerveja com porção de fritas e jogar conversa fora. Jogada no sofá, Hingrid conta um pouco da história de vida. Aos 8 anos veio do Paraná para o Rio de Janeiro morar com uma tia, logo depois que os pais se separaram. Entre os antepassados há alemães, espanhóis e índios. Estuda arquitetura, pratica ioga, pedala pela orla de Ipanema. Pergunto se tem alguma religião: não, mas tem fé. “Encontro espiritualidade na prática do ioga, na meditação e na natureza. Para mim é como esse tripé aí, sabe?”, fala apontando para o equipamento fotográfico. “Você tem que estar bem com espírito, corpo e mente.” Sonha com projetos grandiosos, do tipo ajudar pessoas necessitadas nos lugares mais hostis do planeta, comunidades carentes e isoladas da Ásia, coisas assim. Enquanto isso não acontece, adora acordar e ficar embaçando na cama, dormir “só mais um pouquinho”, no limite do horário em que tem que despertar. Terminamos a sessão e ela sai feliz: “Hoje estou realizada. Quando as fotos estiverem na revista, em junho, completo 22 anos”. Feliz aniversário, Hingrid.
Laila Varaschin
Se tem uma coisa sobre a qual Laila Varaschin não pensa, essa coisa é a velhice. Durante nossa conversa, a gaúcha tinha uma resposta na ponta da língua e no fundo do cérebro para tudo quanto é pergunta - especialmente quando falamos sobre sua jovem personalidade. De certa forma, sua alguma idade dialoga com o lugar onde vive. Ela tem 24, Brasília tem 54. “Existe uma mobilização em relação ao fazer cultural da cidade, mas Brasília é uma cidade muito nova e, por isso, ainda é um pouco parada”, diz a moça, que de parada não tem nada. Ela chegou ao Distrito Federal aos 13 anos. De lá para cá, Laila fez novos amigos, começou a namorar, resolveu cursar Antropologia na UnB, mudou para Audiovisual na mesma universidade e hoje trabalha no Espaço f/508, dedicado à fotografia. Acostumada a ficar atrás das câmeras, ela não teve problemas em passar ao primeiro plano. “Achei super tranquilo, primeiramente por já ter posado antes, mas principalmente por ser amiga da Raquel e já conhecer o trabalho dela”, conta. Na casa de uma amiga, Laila se despiu sob o patrimonial céu de Brasília. A cidade monótona, de uma cor e um traço, ganha outras linhas e tons com a moça de inflamados cabelos longos e curvas justapostas.
Junia Cabral
Junia Cabral chegou e perguntou o porquê da entrevista. Junia não tem tempo a perder. Junia vai pra um curso, anda de patins, trabalha, dá um rolê de skate, vai pra academia, cuida do cachorro, vai pra outro curso, sai da dança, trabalha, entra em casa e volta pra rua. Junia não tem tempo nem para sonhar. Junia não quer. Junia vai e faz e corre e atua. Junia Cabral. Só repetindo o nome para ficar gravado -- ainda que as fotos ajudem, e muito, a lembrança. A gaúcha de 25 anos parece nascida na capital paulista, tamanha a destreza em lidar com a velocidade urbana. “Desde criança eu sonho em vir para São Paulo. Eu vim como modelo, mas se eu tivesse de vir para trabalhar como garçonete, viria também”, conta ela. A vida de fotos e revistas como a Trip são um passo na caminhada planejada por Junia. “Desde que me conheço por gente eu sabia que daqui eu ia pra fora do país“, diz. Ela começou a se conhecer como tal em Santa Maria, no Rio Grande Sul. Na pequena cidade, usava tênis e ia ao shopping, mas quando ia ao interior do estado, metia o pé no barro. “Eu ia pra fazenda e sempre estava toda suja, com um monte de bichos, andando de trator, pescando!”, lembra ela.O amor pelos animais continua até hoje. Malu, sua cachorrinha, é uma das poucas coisas que conseguem parar Junia. A sua vida repleta de afazeres também vem da infância. “Sempre fui muito agitada”, conta. Natural que encontrasse pouso na paulicéia acelerada. Formada em Design de Interiores e agenciada como modelo, Junia quer mesmo ser atriz. Ou, nas suas palavras, vai ser atriz. Já circulou por várias escolas de artes cênicas da cidade e estuda línguas para se preparar ao cinema norte-americano. “Meu corpo pertence a arte”, diz ela, de peito aberto. Essa mesma arte, Junia afirma, é a única coisa que a faria tirar suas tatuagens. Nem mesmo namorado ou namorada — “gosto de deixar essa dúvida” — arrancariam um dos vinte rabiscos da sua pele. Você pode procurá-los por esse ensaio, uma das poucas coisas que pararam a moça. “Meu jeito é assim, tranquilo, comendo salada de frutas, no meio da natureza, no mar, pé descalço no chão”, afirma ela. A gente duvida, embora as fotografias não mintam. O tempo se dilata enquanto ela exibe o corpo sinuoso entre uns pedaços de pano -- roupas, talvez. Que seja uma hora ou um dia, isso não se esquece. Corra, Junia, mas deixe sua lembrança pra gente.
Natalia Scabora
É ela quem recebe os frequentadores de uma festa que começa às 5 da manhã e vai até o meio-dia, todo domingo, em São Paulo. Natalia Scabora se despe de toda a produção da balada e conta sua história Domingo após domingo, Natalia Scabora acorda antes de as mais carolas senhoras irem à missa e troca o baby-doll pela roupa mais bonita do armário. Em frente ao espelho, marca seus olhos mouros e solta o riso fácil. Em pouco tempo, já está na boate D-Edge recebendo seres incansáveis em busca do último espasmo da noite paulistana ou, quem sabe, em busca de um encontro com ela. “A festa que eu faço começa às 5 horas da madrugada e vai até o meio-dia, todo domingo”, conta. Sua religião baladeira começou na adolescência, quando se embrenhava nas casas e nos clubes noturnos da cidade. O gosto virou profissão e hoje, aos 27 anos, Nat trabalha como hostess e promoter. Anos antes, quando criança, brincava com a irmã no bairro do Ipiranga e viajava muito para o interior do Paraná. No sítio da família, a garota punha o pé descalço na terra. “Eu ia pra cachoeira, subia em pé de laranja e de jabuticaba, corria atrás das galinhas, essas coisas de criança!” Nat mantém a meninice e o contato com os bichos. Quando pode, anda de patins e passeia no parque. E tem cinco gatos e um cachorro, que acalmam a moça no seu apartamento. “Gosto de ficar em casa por conta dos meus bichos”, diz. Ela mora com a irmã há três anos. Não tem namorado, embora essa tenha sido a razão da primeira aventura fora da casa dos pais, aos 19 anos. “Não deu certo, voltei, mas não me acostumei mais.” Nat estudava administração e ganhava seu dinheiro. A casa grande onde brincara ficou pequena e a moça pôs o bloco na rua novamente. A família tem apoiado suas escolhas, do sonho de abrir um brechó a fazer este ensaio. "O corpo da mulher é uma imagem bonita", ela diz Desde sempre, a família apoiou suas escolhas, do sonho de abrir um brechó até fazer esse ensaio. “O corpo da mulher é uma imagem bonita”, diz ela, cuidadosamente modesta. Nat diz que achou mais difícil posar para nossas lentes do que fazer festas. “Mas é um trampo também!”, alerta a moça sob o resto da luz da tarde. Em breve a noite chega, ela se veste e parte. Quem dera encontrar Natalia toda vez que o sol nasce – e toda vez que ele se põe.